Onde comer | Sabores de Uberaba: Gastronomia como Identidade Regional e Proposição de Turismo Autêntico

 

Uberaba, no Triângulo Mineiro, carrega a tradição da cozinha mineira, reconhecida por sua simplicidade e diversidade. No entanto, por trás dos sabores aconchegantes, existe um patrimônio culinário que merece ser mais do que tradição: precisa ser valorizado como ativo cultural e turístico estratégico.

 


A base da gastronomia local inclui o pão de queijo, o feijão tropeiro, o angu com couve, a canjiquinha e as carnes suínas em preparações como a costelinha e o frango com quiabo, refletindo influências indígenas, africanas e europeias. Esses pratos não são meramente receitas de fazenda: são resultados de práticas sociais históricas. A canjiquinha, por exemplo, remonta a 1749, associada à culinária dos tropeiros, e torna-se símbolo de resistência cultural,

 

Em Uberaba, essa tradição ganha espaço no cotidiano e nos pratos servidos nos restaurantes especializados. O restaurante Ser Tão Mineiro, por exemplo, oferece buffet nos fins de semana com cardápio baseado na culinária de fazenda, promovendo experiências gastronômicas integradas a atividades lúdicas e ecoturísticas sertaomineiro. Isso evidencia que a comida local pode ser abraçada como um produto turístico, agregando valor e identidade ao destino.

 

Contudo, ainda há um hiato entre potencial e visibilidade. Embora Uberaba seja reconhecida pela “comida mineira típica”, faltam marcas culinárias próprias — criações gastronômicas com a identidade da cidade —, que possam ser patrimônio cultural imaterial reconhecido e atrativo de regime contínuo.

 

A tese aqui sustentada é clara: a gastronomia uberabense deve ser projetada como patrimônio cultural e motor de turismo sustentável. Para isso, é urgente a construção de iniciativas comerciais e institucionais, como: criação de festivais temáticos (ex. “Festival da Canjiquinha de Uberaba”); roteiros turísticos gastronômicos integrados à Rota do Queijo Artesanal e ao Geoparque; e incentivos à produção local — pães de queijo regionais, queijos artesanais e doces típicos, com certificação de origem.

 

Essa proposta encontra justificativas sólidas. Um estudo do Governo de Minas sobre culinária mineira e itinerários regionais afirma que eventos gastronômicos aumentam o fluxo turístico em até 25% . Na prática, integrar gastronomia a pacotes turísticos pode elevar o gasto médio por visitante, aumentar o tempo de permanência no destino e gerar economia criativa local, reforçando a cadeia produtiva.

 

Em resumo, Uberaba possui os ingredientes — culturais, históricos e humanos — para se posicionar como referência gastronômica no interior de Minas Gerais. O próximo passo é transformar essa base em estratégia territorial de desenvolvimento: criando identidade própria, promovendo inovação culinária e colocando a cozinha local no roteiro cultural e turístico. Só assim a gastronomia de Uberaba deixará de ser “cozinha mineira genérica” para se firmar como marca autoral, agregando valor, autoestima e competitividade ao destino.

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